Prefácio

Enquanto compilava os textos para esta nova edição, pude perceber que todos eles traziam um Aroma próprio, facilmente reconhecido, que estava muito para além de tudo aquilo que alguma vez eu pudesse ter compreendido do mundo através da experiência directa ou do conhecimento adquirido.

Percebia, nas palavras, um timbre inconfundível e, embora pudesse observar uma evolução e um amadurecimento na escrita - estes textos foram escritos ao longo dos últimos dez anos -, havia algo intocável que estava para além da mesma.

Compreendi então, que existe em nós um Som e um Aroma que não são tocados pelos cheiros e pelos ruídos da civilização. Algo que permanece como sempre foi, com o mesmo timbre, com a mesma fragrância, inalterado. Esse Som, é a nossa Essência, e o Aroma, o Amor com que esta se expressa.

Por mais que nos possamos emaranhar nos caminhos do mundo, e permitir que este polua a nossa personalidade com os seus cheiros e os seus ruídos, lá dentro, no mais Profundo do Ser, existe algo imperturbável.

Saber reconhecer esse Som e permitir que, através da sua presença, o Aroma da Alma se faça presente, é a única coisa realmente essencial que temos para fazer neste mundo. Tudo o resto virá por acréscimo, dentro da necessidade daquilo que a Vida defi nir como importante.

E enquanto estava neste estado de percepção, uma imagem permanecia viva, querendo mostrar algo mais que todas as ilações que pudesse tirar a respeito destes textos. Via um ser de vestes simples sentado nas margens de um lago. O seu olhar perdia-se no horizonte sem que nada de especial fosse focado. Ele estava ali, como estava a árvore, a erva rasteira, no ritmo e no compasso do vento e do ondular suave das águas.

Percebia que aquela imagem era um convite, um convite a mergulhar naquele estado onde nada mais sobressaia que o simples pulsar da Vida em toda a sua Plenitude. Não havia espaço para o conhecimento, para as experiências vividas ou sonhadas, para o desejo de ser ou de fazer, mas apenas o fl uir com o ritmo da Presença que nele simplesmente Era.

Naquele estado, todo o conhecimento acumulado, em particular o conhecimento espiritual, diluía-se no manto sereno daquelas águas, nada mais signifi cando. O que era Vivo e Real, era essa Presença sem a qual todas as ideias, todos os sentimentos, todas as acções realizadas ou por realizar, nada seriam. E nada sendo, transformação alguma poderiam trazer ao mundo.

Que esse Som, a Presença do Espírito em nós, se faça presente através das Fragrâncias da nossa Alma, pois apenas este poderá curar esta velha humanidade, resgatando-a para uma Nova Terra.

Paz Profunda,
Pedro Elias